O município de Porto Seguro, além de abrigar a sede de mesmo nome, reúne outros três destinos que, juntos, formam quatro em um. Estes lugares, que cultivam, ao mesmo tempo, charme e simplicidade, estão entre os mais encantadores do país, e hoje muito procurados por viajantes do mundo inteiro: em Arraial d’Ajuda, Trancoso e Caraíva, você certamente irá encontrar a sua praia — ou se encantar com todas elas.
A arquitetura colonial de Porto Seguro, as cores e os sabores de Arraial, as boutiques pé na areia de Trancoso, o encantador encontro do rio com o mar em Caraíva: embora estejam bem próximos, cada um dos quatro destinos tem suas particularidades. Clique para explorá-los.
A chegada de Pedro Álvares Cabral a exatamente 16 km ao norte de Porto Seguro, na Coroa Vermelha, é oficialmente considerada o primeiro desembarque português no Brasil. Porta de entrada da região, a sede que dá nome à cidade é o principal destino turístico da região e ponto de partida para quem quiser explorar Arraial, Trancoso e Caraíva. Na época da colônia, abrigava os principais edifícios religiosos e civis do país, construções que hoje permeiam um importante Centro Histórico que, com seu colorido casario colonial do século 18, conta a história do Brasil: a área é repleta de detalhes que nos remetem diretamente à época da chegada dos portugueses.
O curioso é que, apesar de ser um museu a céu aberto, Porto Seguro é mais rústica que muitas outras cidades da Bahia. Em contraste com sua agitada vida noturna, suas ruas costumam ser bem calmas durante o dia. Grande parte dos passeios de aventura e natureza também partem diretamente dali, entre observação de baleias, trilhas na mata e visita às principais reservas indígenas. A Orla Norte é particularmente encantadora, forrada de areias brancas.
Na Avenida Beira Mar, na Orla Norte, está o Memorial da Epopeia do Descobrimento, com uma réplica da caravela de Pedro Álvares Cabral em tamanho real e, envolvido por uma redoma de vidro, o marco de posse de 1503, atribuído à expedição do navegador Duarte Coelho.
No Centro Histórico, na Cidade Alta, a Casa de Câmera e Cadeia, de 1772, que abriga o Museu de Porto Seguro, resgata a cultura dos povos indígenas da região e a linha do tempo da colonização. Veja também a Igreja Nossa Senhora da Pena, de 1535, e o Museu de Arte Sacra, reaberto em 2018, com mobiliário e objetos religiosos históricos.
Na Cidade Baixa está a clássica feirinha de artesanato local, além da famosa Passarela do Descobrimento, um dos cartões-postais mais famosos da Bahia. Com uma bela vista do cais, e em frente ao encontro do Rio Buranhém com o mar, o local é repleto de antigos armazéns e casas de pescadores, que juntos formam um mosaico de cores vibrantes que compõem uma interessante diversidade de bares, restaurantes e lojas.
É a praia mais popular, que abriga as megabarracas tão características (e que podem receber até 10 mil pessoas por dia!). Taperapuã tem uma pluralidade de palcos, restaurantes e lojas que oferecem desde almoço com frutos do mar até luaus e aulas de dança. Na praia, dá para praticar vôlei de areia, alugar um caiaque ou fazer um passeio de banana boat.
Para além de Taperapuã está a Praia de Mundaí, cujo clima tranquilo e o mar sossegado são procurados especialmente por famílias com crianças. Destaque também para a Praia do Mutá, onde o mar é calmo, e os restaurantes e barracas, charmosos.
Passeios de barco que incluem equipamento e petiscos levam aos recifes de corais do Parque Marinho do Recife de Fora ou do Parque Marinho de Coroa Alta, ambos com piscinas naturais onde é possível avistar peixes multicoloridos, ouriços e estrelas-do-mar. Entre julho e outubro é possível fazer tours de observação de baleias-jubarte, que vêm ao litoral baiano nesta época para se reproduzir.
Próximo ao centro da cidade fica a Reserva da Jaqueira, comunidade que reúne cerca de 30 famílias da etnia pataxó e provê um dia de imersão na cultura do povo, com vestimentas, pinturas, histórias e casas típicas. No recém-inaugurado Parque Nacional do Pau Brasil, há trilhas bem sinalizadas com trechos de Mata Atlântica e diversos exemplares da árvore que batizou o país.
O Aeroporto de Porto Seguro recebe voos diretos de diversas cidades do Brasil e de países vizinhos, como a Argentina.
A uma balsa de distância de Porto Seguro, Arraial é um dos distritos de praia mais completos do Brasil. Compras? Siga para a Broadway, cheia de lojas com produtos e artesanatos da região. Casario histórico? Na praça principal, tombada pelo IPHAN, construções coloniais coloridas estão dispostas ao redor da Igreja Matriz Nossa Senhora D’Ajuda – atrás dela, um mirante com mureta coberta por fitas do Senhor do Bonfim deixa ver o encontro do Rio Buranhém com o mar. Procura agito? Há bares que funcionam o ano todo e barracas de praia para deixar o dia passar entre uma caipirinha e outra. Aventura? Empresas da região organizam atividades de esporte e ecoturismo, como trilha de quadriciclo até Taípe e pedalada pelas praias.
Diferente das vizinhas Trancoso e Caraíva, que têm ares mais de “vilarejos”, Arraial guarda um clima de cidade pequena, com ruas de paralelepípedos e crianças brincando livremente pelas calçadas. Não é necessário ter carro por lá, já que é fácil chegar à maior parte das atrações de vans ou mototáxis. À noite, a sensação é caminhar pela Rua Mucugê (que só “funciona” a partir das 16h), cheia de lojinhas, bares e bons restaurantes.
Com barracas e espreguiçadeiras, falésias ou piscinas naturais, Arraial tem boa variedade de praias, onde todas têm como denominador comum o mar calmo azul-claro, a faixa de areia dourada e os coqueiros abundantes. Colada na vila fica a Praia de Mucugê, com bares e restaurantes animados. Mais adiante está o trecho chamado de Parracho, onde abrem clubes de praia no verão, e, na sequência, a Pitinga, com suas falésias avermelhadas. De lá dá para ir até a Praia de Taípe, a 14 km do centro, onde o movimento diminui, mas as falésias seguem na paisagem. Em direção a Porto Seguro, Araçaípe é procurada para fazer snorkel.
Arraial é um dos principais centros gastronômicos da Bahia, com uma boa diversidade de sabores. Vale lembrar que, embora a maior concentração de restaurantes esteja na Rua Mucugê, muitos deles só começam a funcionar no fim da tarde. Em geral, o ritmo da cidade é ditado pelas pessoas que almoçam ou petiscam na praia e, à noite, vão jantar num bom restaurante. Para quem não quiser almoçar à beira mar, a dica é ir até o centrinho de Arraial, onde fica o Beco das Cores.
– Quem alugar um carro no aeroporto de Porto Seguro pode seguir pelo caminho mais curto: a balsa está a 4 km dali e desembarca na Ponta do Apaga-Fogo, a cerca de 6 km do centro do Arraial. Indo direto pelo asfalto o trajeto totaliza 63 km (o que pode valer a pena quando houver fila na balsa, por exemplo);
– Do aeroporto de Porto Seguro ou até mesmo de Trancoso é possível fazer a viagem de transfers conduzidos por empresas privadas;
– Outra opção é ir de táxi de Porto Seguro até a balsa de Arraial, e, após atravessá-la, pegar um dos ônibus diários com destino a Caraíva, parando em Trancoso no caminho.
O astral é relaxado; a natureza, abundante; e as casinhas do centro tombado, coloridas. Os restaurantes são de alta gastronomia, os bares de praia servem coco em cestinhas de palha, as lojas vendem produtos de grife e o público fiel, em sua grande maioria, vem de longe. Se Trancoso pudesse ser resumida em uma frase, ela seria: seu charme é a combinação perfeita entre a simplicidade e o acolhimento dos locais com gente que veio de fora e não arredou mais o pé dali. Sobre uma falésia florestada com vista para praias de águas claras, Trancoso é um pouco menor que a vizinha Arraial e mais extensa que Caraíva.
Fundada pelos padres jesuítas em 1586, foi descoberta pelos viajantes somente no fim dos anos 1970, e hoje é conhecida especialmente por conseguir ser, ao mesmo tempo, rústica e contemporânea, pé na areia e badalada: uma boa metáfora é pensar que o restaurante tranquilo que serve frutos do mar de dia, com mesas e almofadas coloridas sob enormes árvores do lado de fora, pode se transformar em uma animada pista de dança na madrugada.
Das mais carismáticas praças do país, o Quadrado de Trancoso é um terreno amplo disposto ao redor da famosa igrejinha do século 17. Em suas laterais estão construções coloridas que abrigam lojas, cafés e restaurantes de música ao vivo e mesas externas, a maioria com luminárias coloridas pendendo dos galhos de grandes amendoeiras. A vida passa devagar ali, entre crianças que jogam bola no campinho, jegues e cachorros andando soltos, banquinhas de artesanato e (muitas) tapiocas, além de casais e famílias, público cativo dos restaurantes, que servem de moqueca a sushi, passando por ceviche peruano a carnes argentinas.
Quem curte caminhadas longas estará em casa: são cerca de 13 km, por exemplo, para ir do centro até a Praia de Mucugê, já em Arraial, sempre pela areia. No outro sentido, um percurso de 17 km passa por praias vazias como Itaquena, Patimirim e a bela Barra do Rio dos Frades, onde o rio encontra o mar até chegar na Praia do Espelho, considerada uma das mais bonitas e concorridas do Brasil, com seu mar com matizes de verde e azul emoldurado por falésias.
Também é possível curtir os arredores da cidade mais longe do mar, em passeios de lancha, caiaque ou stand up paddle pelo Rio Trancoso. A cultura indígena, muito presente no dia a dia de toda a região, também pode ser conhecida de perto por meio de uma visita à Aldeia de Imbiriba, uma comunidade de índios Pataxós. Ali também é possível comprar suas produções em artesanato, a maior parte com o uso do coco como matéria-prima.
Porém, o grande ícone do vilarejo é mesmo a sua famosa igrejinha, batizada originalmente Igreja de São João Batista.
– O trajeto mais rápido é de carro: Trancoso está a 80 km, em estrada asfaltada, de Porto Seguro; e a 40 km a partir do ponto de chegada da balsa, em Arraial D’Ajuda. De Arraial também dá para ir direto pela estrada antiga (26 km, sendo 15 deles de terra);
– Também é possível pegar transfers particulares que saem do aeroporto de Porto Seguro;
– Quem quiser ir de táxi até a balsa de Arraial, pode atravessá-la a pé e, de lá, seguir de ônibus até Trancoso.
A vila conserva rusticidade e ares sossegados que cativam rapidamente quem faz a travessia de canoa para desembarcar ali. Localizada numa pequena península no encontro do Rio Caraíva com o mar, ela se organiza por quarteirões extensos de areia fofa (não há asfalto nem terra, somente areia), casinhas multicoloridas e esquinas adornadas pelas pinturas da artista Duca, também dona de um conhecido restaurante vegetariano, um dos grandes ícones locais. Tudo isso para além de mangueiras, amendoeiras e jambeiros que produzem boas sombras o ano todo.
O adorável conjunto de lojinhas, restaurantes e bares enche e desenche ao longo das temporadas, que por muito tempo acabaram ditando o movimento. Caraíva já não é mais como há cerca de 10 anos, quando era iluminada sob lamparinas, “famosa por não ter luz elétrica”. Hoje, faça chuva ou sol, há visitas diárias. Mas não se engane: o tal clima de paz e sossego, principal chamariz local, ainda impera com destaque. Tanto que a vila não para de colecionar histórias de quem foi e não voltou. O celular não pega em muitos cantos e os carros seguem sendo proibidos — o transporte ali ainda é como antigamente, de charrete (ou de canoa, é claro). A população de pouco mais de mil pessoas une os moradores com a comunidade indígena Pataxó, que influencia diretamente nas tradições, na gastronomia e no artesanato local. Por fim, a viagem se dá entre a praia de águas densas, o famoso pôr do sol no rio e as agitadas (e muito celebradas) noites de forró.
Segundo uma documentação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), disponível no Museu do Descobrimento, em Porto Seguro, a comunidade de Caraíva é o vilarejo mais antigo do país. A vila, que por centenas de anos viveu exclusivamente da pesca, passou a encantar os viajantes mais aventureiros somente nos anos 1970: a maneira mais fácil de chegar até lá era caminhando desde a praia de Trancoso. Na mesma década chegaram os primeiros motores para os barcos, que até então eram movido por velas. Com o tempo, a pequena Caraíva foi se adaptando para receber mais visitantes, mas sempre manteve sua atmosfera rústica. A energia elétrica só foi chegar em 2007.
A praia principal, chamada Praia de Caraíva, tem cerca de 2 km de areia fofa, águas claras e entornos verdejantes, o que garante o clima de sossego mesmo para quem já sabe que está na faixa mais tradicional dali. Muitos dizem que nesta praia estão os melhores pontos para quem quiser relaxar de verdade, estender a canga e ler um bom livro, ou somente para se lembrar de como o tempo ainda pode passar devagar.
Na Praia da Barra, ou onde o rio encontra o mar, as árvores fazem boas sombras e as canoas agitam as águas, que aqui são especialmente mais turvas. Algumas cabanas vendem comidas, mas a maioria delas oferece apenas lanches rápidos, como sucos, tapiocas e empanadas, para quem vier passar o dia.
Atravessando o rio de canoa e, na sequência, caminhando por cerca de quarenta minutos, você alcança a Praia do Satu, onde estão duas lagoas. Logo você vai chegar às falésias e, por fim, ao pé de um mirante — do alto, o visual é ainda mais impressionante. Segundo moradores, Satu era um senhor da região que “tinha boas histórias e muita alegria em receber os turistas”.
A Praia do Satu também funciona como um ponto de apoio estratégico para a caminhada de 9 km até a Praia do Espelho, que, assim como as vizinhas Trancoso e Arraial, pode ser acessada diretamente de Caraíva. De bugue, barco ou até mesmo a pé, dá para se aventurar mais ao Sul, ou exatamente até a Ponta do Corumbau, a cerca de 13 km, onde a maré baixa se transforma em uma piscina natural translúcida. Uma vez ali, atente-se para a formação de uma “ponta” de areia, a mesma que dá nome à praia — mas será preciso ir até lá para entender o que é caminhar (literalmente) para “dentro” do mar.
Se a sua praia também for de água doce, você está no lugar certo: um dos passeios mais procurados da vila é o boia-cross no Rio Caraíva, onde você desce a correnteza sem fazer esforço algum e vai, aos poucos, observando a natureza com toda a calma que ela merece: do rio ao mar, das matas aos manguezais.
Por fim, no caminho até Trancoso está a charmosa Itaporanga, um pequeno vilarejo expoente em artesanato com diversas lojas de utensílios de cozinha e artigos de decoração. Uma excelente parada para quem quiser fazer boas compras antes de voltar para casa.
Para conhecer mais sobre a comunidade indígena Pataxó, faça um passeio pelas aldeias Porto do Boi ou Barra Velha. A última, também conhecida como “Aldeia Mãe”, abriga cerca de 700 famílias que povoam oito mil dos mais de 22 mil hectares de terra do famoso Parque Nacional do Monte Pascoal, que fica bem aos pés de Caraíva.
O artesanato pataxó não é só apenas uma importante fonte de renda para os índios, como também uma emblemática representação de sua cultura. São cocares, faixas de cabelo, colares, pulseiras, tornozeleiras, gamelas, colheres e outros objetos feitos com penas de aves, madeira, fibras e sementes. O paraju, uma madeira de cor vermelha escura, é utilizado especialmente para os utensílios domésticos, enquanto a maioria dos adornos é feita com sementes de jacarandá, jacanaíba e maçaranduba. Para os índios, o uso de materiais orgânicos nutre e fortalece a conexão com a natureza.
E se durante o dia a vila é tão tranquila, à noite ela é um espetáculo à parte: o arrasta-pé dita os acordes noturnos com uma programação comandada por casas que se dedicam quase que inteiramente ao forró pé-de-serra. Seja por meio de um som mecânico ou de uma banda ao vivo, a figura do sanfoneiro sempre se faz presente: se não é de corpo, é de alma. Caraíva é do forró, e o forró é, de fato, um de seus patrimônios.
Antes de se render aos embalos das noites, faça uma parada no Beco da Lua, um lugar charmoso que reúne barraquinhas de comidas típicas e boas cartas
– Caraíva está a 120 km (ou duas horas) do aeroporto de Porto Seguro. Os últimos 40 km são de terra. Quem vem de carro precisa deixá-lo em um estacionamento “do lado de lá do rio”, onde estão as canoas que fazem a travessia até a vila. O mesmo trajeto também pode ser feito de táxi;
– Do aeroporto de Porto Seguro ou até mesmo de Trancoso é possível fazer a viagem de transfers conduzidos por empresas privadas;
– Outra opção é ir de táxi de Porto Seguro até a balsa de Arraial, e, após atravessá-la, pegar um dos ônibus diários com destino a Caraíva, parando em Trancoso no caminho.